Os últimos capítulos que pararam o Brasil
Quem assistiu à reta final de Vale Tudo, exibida entre 1988 e 1989, lembra do clima de expectativa e dos debates acalorados nas rodas de conversa. A pergunta "vale tudo para vencer na vida?" virou quase lema popular. Criada por Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères, a novela entrou para a história justamente por mostrar até onde vão pessoas desesperadas pelo poder — e o caro preço disso.
O destaque absoluto da trama foi Maria de Fátima Accioly, vivida por Glória Pires. Ela não pensou duas vezes em trair a própria mãe, vender a casa da família quase à traição e cair de cabeça na elite carioca. O objetivo? Dinheiro e status. A jovem foi atrás do estilista César, jogou charme, tentou se casar com ele e conquistar o sobrenome Roitman. Mas quanto mais mentia e armava, mais se enrolava. O público se dividia: odiava Fátima, mas não conseguia desgrudar da tela para ver seu próximo lance.
O desfecho dela não poderia ser outro: a queda foi inevitável. Fátima acabou sozinha, com as máscaras caindo e ninguém mais acreditando em suas mentiras. Quem esperava uma lição para quem só pensa em si próprio viu exatamente isso nos últimos capítulos.
Raquel, Odette e os outros: redenção, punição e mistério
Mas Fátima não era dona da história. Dona Raquel, interpretada por Regina Duarte, era o oposto: batalhadora, nunca abriu mão dos seus valores, mesmo quando foi enganada pela filha. Ela passou por maus bocados, sofreu, caiu, mas se levantou. Sua jornada foi marcada por trabalho honesto, amigos verdadeiros e uma força que surpreendeu até quem estava perto. No final, Raquel deu a volta por cima, soube perdoar sem deixar de se impor e recuperou sua dignidade diante de todos. Simbolizou o triunfo da integridade diante da malandragem.
Impossível falar de Vale Tudo sem citar Odette Roitman, personagem que virou sinônimo de vilania na TV. Beatriz Segall eternizou a empresária fria, manipuladora e cheia de sarcasmo. Seu destino chocou o público: um assassinato misterioso que mobilizou a nação, parou o trânsito e gerou apostas sobre a identidade do assassino. Nenhuma outra vilã teve uma despedida tão impactante — povo ainda comenta o suspense daquele final.
Outras figuras como Helininha, vivida por Renata Sorrah, também tiveram seus momentos de destaque. Personagem complexa, envolvida nos dramas familiares e conflitos internos, Helininha serviu como contraponto à mãe Odette e às intrigas de Fátima. Sua trajetória refletiu os dilemas de quem, no meio do caos, busca um caminho próprio.
Vale Tudo não fechou portas para finais felizes fáceis. Mostrou que a ganância destrói laços, que nem todo atalho compensa, e que cada escolha tem seu preço. O impacto do desfecho dos personagens continua sendo referência quando se fala de novelas que marcaram gerações — e parece que aquela eterna pergunta ainda ecoa por aí.
