Espetáculo "A Coisa" enche o Rio: temporadas em Ipanema e Leblon

Espetáculo "A Coisa" enche o Rio: temporadas em Ipanema e Leblon

Quando George Sauma, ator e diretor anunciou a estreia da peça distópica "A Coisa", o público carioca ficou em alerta máximo. A comédia surreal, que mistura tragédia, mistério e galhofa, chegou ao Rio de Janeiro em maio de 2025 e rapidamente virou assunto nos círculos culturais. Em três temporadas diferentes, o espetáculo lotou o Teatro Ipanema Rubens Corrêa e, depois, o icônico Teatro Tablado, trazendo ao palco uma discussão meta‑teatral sobre a própria natureza da encenação.

Contexto da produção e os criadores

A ideia nasceu na cabeça de um trio de cariocas – André Dale, roteirista, Leandro Soares, ator e o já citado George Sauma – que decidiram não apenas escrever, mas também dirigir e atuar na obra. O objetivo? Questionar, com humor ácido, os limites entre realidade e ficção, enquanto brincam de quebrar a quarta parede. A inspiração vem de séries de ficção contemporâneas, mas nada é citado literalmente, mantendo o ar de mistério que a peça promete.

Detalhes das temporadas e locais

A primeira leva aconteceu entre 22 e 25 de maio de 2025, no Teatro Ipanema Rubens Corrêa, situado na Rua Prudente de Morais, 824, bairro de Ipanema, Rio de Janeiro. As sessões eram às 20h nas quintas, sextas, sábados e domingos, conforme divulgado na plataforma Sympla (evento 2925848).

De 04 de julho a 03 de agosto, a temporada foi estendida no mesmo espaço, mantendo o horário de 20h de sexta a domingo. Essa continuidade mostrou que a demanda não esmoreceu; ao contrário, as filas nas bilheterias físicas e online ganharam tamanho. Após fechar as portas do Ipanema, o espetáculo migrou para o Teatro Tablado, localizado no elegante bairro do Leblon, Rio de Janeiro. Entre 9 e 17 de agosto, funcionou diariamente às 20h, com ingressos novamente vendidos via Sympla (evento 3040346).

Vale lembrar que o Teatro Tablado foi fundado em 1951 por Maria Clara Machado e Paulo Autran. A casa tem mais de setenta anos de história, sendo berço de talentos como Fernanda Montenegro e José Wilker. Embora o programa cultural da cidade não tenha oficializado, "A Coisa" acaba coincidindo com as celebrações dos 70 anos do Tablado, dando ainda mais peso à sua presença naquele palco.

Entrevista e processo criativo

Entrevista e processo criativo

Em entrevista exclusiva ao Arte Clube, George Sauma explicou que a peça foi moldada em seis meses de ensaios intensos no próprio Tablado. "Trabalhamos com improvisação, testamos dezenas de finais antes de escolher o que melhor servia ao espírito da história", contou. O diretor também revelou que a escrita coletiva aconteceu ao redor da mesa de café do teatro, onde café forte e sonecas curtas alimentavam as discussões.

A trajetória de Sauma é curiosa: começou no Teatro Tablado ainda criança, estreou na TV em 1998 na novela "Mulher" da Rede Globo e ganhou fama nacional como Tatalo na comédia "Toma Lá, Dá Cá". Além de atuar, ele é pianista desde a infância e fundou a banda Choque do Magriça, conhecida no circuito underground carioca. Recentemente, encarnou William Shakespeare no musical "Alguma Coisa Podre!", mostrando sua versatilidade entre drama clássico e humor da rua.

Reações do público e críticas

Apesar da falta de números oficiais de público, relatos de frequentadores apontam lotação quase total nas três temporadas. Uma espectadora descreveu a experiência como "um choque de gargalhadas e reflexões que deixaram a cabeça a mil". Críticos da Revista Prosa Verso e Arte elogiaram a ousadia da peça ao misturar meta‑teatro com crítica social, destacando que "a quebra da quarta parede não é mero artifício, mas um convite ao espectador questionar sua própria realidade".

Em termos de repercussão digital, buscas por "A Coisa Teatro" dispararam 42% nas duas semanas que antecederam a estreia, segundo dados da ferramenta de tendências do Google. Isso mostra que o boca‑a‑boca, aliado a estratégias de divulgação nas redes sociais dos próprios criadores, funcionou como um verdadeiro gatilho de curiosidade.

Próximos passos e significado cultural

Próximos passos e significado cultural

Com o ciclo de 74 dias concluído em 17 de agosto, ainda não há confirmação de turnê nacional ou internacional. O trio já insinuou que pode levar a peça a outras capitais brasileiras, mas nada foi oficializado. Enquanto isso, a obra permanece como um marco da cena teatral contemporânea do Rio, reafirmando o papel dos pequenos teatros independentes na produção de conteúdo inovador.

Para quem ainda não assistiu, a mensagem central de "A Coisa" – que arte e vida são cônsules de um mesmo império de significados – continua tão relevante quanto no primeiro ato. E, afinal, no cenário cultural do Rio de Janeiro, quem disse que a fronteira entre realidade e ficção tem de ficar bem definida?

Perguntas Frequentes

Quais são as datas e locais das apresentações de "A Coisa"?

A peça estreou de 22 a 25 de maio de 2025 no Teatro Ipanema Rubens Corrêa, em Ipanema, Rio de Janeiro. Depois, teve uma temporada estendida de 04 de julho a 03 de agosto no mesmo teatro e, finalmente, de 9 a 17 de agosto no Teatro Tablado, no Leblon.

Quem são os criadores e quais seus antecedentes no teatro?

A peça foi idealizada, dirigida e estrelada por André Dale, George Sauma e Leandro Soares. Sauma, por exemplo, começou no Teatro Tablado, atuou na novela "Mulher" (1998) e ficou conhecido como Tatalo na série "Toma Lá, Dá Cá". Ele também é pianista e líder da banda Choque do Magriça.

Como foi o processo criativo da peça?

Segundo entrevista ao Arte Clube, o grupo passou seis meses em ensaios intensivos no Teatro Tablado, usando improvisação e testando múltiplos finais. O objetivo era criar uma narrativa que misturasse humor, distopia e meta‑teatro, permitindo que os atores quebrassem a quarta parede.

Qual tem sido a reação do público e da crítica?

Os espectadores relataram lotação quase total e descrições de "gargalhadas e reflexões". Críticos da Revista Prosa Verso e Arte elogiaram a ousadia da peça ao misturar meta‑teatro com crítica social, destacando o convite ao público para questionar sua própria realidade.

Existe plano de levar a peça a outras cidades?

Até o momento, o trio não confirmou turnê nacional ou internacional. Eles sugeriram a possibilidade de apresentar "A Coisa" em outras capitais brasileiras, mas ainda não há anúncios oficiais.


Alessandro Machado

Alessandro Machado

Sou um jornalista especializado em notícias e adoro escrever sobre assuntos relacionados ao cotidiano brasileiro. Minha paixão é informar e engajar a audiência com conteúdo relevante e atual. Trabalho para trazer ao público histórias que importam em suas vidas diárias. Além de escrever, gosto de explorar novos locais e conhecer pessoas interessantes.


Comentários

Camila A. S. Vargas

Camila A. S. Vargas

19.10.2025

É admirável observar como a produção “A Coisa” foi capaz de integrar humor ácido com uma crítica social profunda, reafirmando o papel vital dos pequenos teatros na cena cultural carioca. A repercussão nas três temporadas demonstra não apenas a excelência artística, mas também a sede do público por propostas inovadoras. Parabenizo o trio criativo pela ousadia e pela execução impecável, que evidenciam o futuro promissor do teatro contemporâneo. Continuemos a apoiar iniciativas que desafiam a realidade e ampliam nossos horizontes.

Marcos Stedile

Marcos Stedile

19.10.2025

Olha só, mais um “fenômeno” que a mídia insiste em elevar a níveis de divindade!!! Eles não contam que tudo não passa de um grande esquema de marketing para encher bolsos ocultos… É óbvio que o sucesso vem de joguinhos de bastidores, de alianças secretas e de manipulação de dados de audiência. Ninguém revela isso, mas a verdade está lá, escondida entre as cortinas do teatro!!!

Renato Mendes

Renato Mendes

19.10.2025

É incrível como a peça mistura meta‑teatro e crítica social num ritmo tão dinâmico. Cada sessão parece um laboratório onde o público é convidado a questionar suas próprias percepções. A energia no Ipanema e no Tablado era contagiante, e isso mostra que a cena local ainda tem muito a oferecer. Vale a pena conferir se ainda houver vagas.

Priscila Galles

Priscila Galles

19.10.2025

Se quiser entender melhor a dinâmica dos ensaios, dá uma olhada nas entrevistas que o Sauma concedeu ao Arte Clube. Ele explicou que a improvisação foi a base para escolher o final definitivo, e isso dá um toque muito autêntico ao espetáculo. Ah, e não esqueça de chegar cedo, as filas são bem longas!

Michele Hungria

Michele Hungria

19.10.2025

A produção, embora bem divulgada, demonstra uma superficialidade lamentável ao pretender oferecer profundidade filosófica. A tentativa de mesclar comédia e distopia resulta em um colapso conceitual que pouco acrescenta ao debate cultural. A crítica parece mais uma estratégia de autopromoção do que um verdadeiro aporte artístico. Em síntese, o espetáculo falha em cumprir suas próprias pretensões.

Priscila Araujo

Priscila Araujo

19.10.2025

Entendo a decepção, mas acredito que a energia da plateia trouxe um brilho inesperado à apresentação. Mesmo com limitações, a coragem dos atores em arriscar novos territórios merece reconhecimento.

Glauce Rodriguez

Glauce Rodriguez

19.10.2025

Enquanto celebramos a criatividade local, não podemos ignorar que certas produções recebem apoio excessivo por motivos nacionalistas disfarçados. É preciso analisar criticamente quem realmente se beneficia das verbas culturais e até onde vai a influência do Estado nas escolhas artísticas.

Daniel Oliveira

Daniel Oliveira

19.10.2025

A peça “A Coisa” representa, à primeira vista, um esforço admirável de inovação dentro do cânone teatral contemporâneo, porém ao analisar suas camadas mais profundas, percebe‑se uma série de paradoxos que desafiam a própria compreensão do espectador. Primeiro, a decisão de quebrar a quarta parede, embora louvável, parece servir mais como um artifício de autopromoção do que como uma ferramenta de reflexão genuína. Em segundo lugar, a mistura de humor ácido com críticas sociais superficiais cria uma tensão que nunca é resolvida, deixando o público em um estado de expectativa permanente. Além disso, a estrutura narrativa, construída em torno de múltiplos finais testados nos ensaios, evidencia uma indecisão criativa que poderia ter sido transformada em força, mas acabou se tornando um ponto fraco. A escolha dos locais – Ipanema e Leblon – reforça, também, um discurso de elitização cultural, ao selecionar bairros de alto poder aquisitivo para veicular a mensagem. Não se pode negar, porém, que a energia dos atores e a qualidade técnica da produção foram pontos altos que compensaram, em parte, as falhas conceituais. A trilha sonora, composta por acordes de piano que ecoam a história pessoal de Sauma, trouxe uma camada sensorial que enriqueceu a experiência. Por outro lado, a falta de dados oficiais sobre a audiência impede uma avaliação objetiva do impacto real da peça na comunidade. Em termos de crítica, alguns observadores apontaram que a obra poderia ter se beneficiado de um roteiro mais coeso, evitando a sensação de improvisação excessiva. Ainda assim, é inegável que “A Coisa” provocou discussões relevantes sobre a relação entre arte e realidade, o que constitui, por si só, um mérito significativo. Por fim, a esperança de que a produção possa alcançar outras cidades ainda permanece como um ponto de interrogação, mas que, se realizasse, poderia ampliar o debate que já se instaurou no Rio de Janeiro. Em síntese, o espetáculo oferece uma experiência contraditória, simultaneamente encantadora e confusa, que merece ser analisada sob múltiplas perspectivas.

Escreva um comentário