Um novo polo cultural dentro de Santo Cristo
Ao girar a esquina da Rua da Assembleia, os moradores de Santo Cristo dão de cara com um grande mural que grita: "Tu tá no RJ não é Disney". A mensagem, pintada em letras garrafais e cores vibrantes, faz parte da abertura do mais recente centro cultural da cidade. A iniciativa, promovida pela prefeitura em parceria com organizações de arte contemporânea, chega num momento em que o Rio busca dar vida nova a bairros historicamente marginalizados.
O edifício, antes vazio, foi totalmente reformado para receber oficinas, salas de exposição e áreas de convivência. A escolha de Santo Cristo não foi aleatória: o bairro tem passado por um processo de revitalização urbana, com novas linhas de metrô e projetos habitacionais. O centro cultural chega como um ponto de encontro, oferecendo aos residentes um acesso direto à produção artística contemporânea, algo que antes exigia deslocamento até o centro ou a zona sul.

A exposição “Onoff Rio” e a mensagem da rua
Na primeira planta do novo espaço, o público encontra a exposição “Onoff Rio”, assinada pelo argentino Tec Fase, artista que ganhou destaque em São Paulo e agora traz sua visão para o Rio. A mostra mistura gravuras, instalações interativas e vídeos que questionam a relação entre cidade, identidade e tecnologia. Tec Fase usa a própria cidade como tela, projetando imagens que misturam paisagens cariocas com elementos digitais, criando um diálogo entre o real e o virtual.
A escolha de um artista estrangeiro, porém já inserido na cena brasileira, demonstra a abertura do centro para perspectivas globais sem perder o foco local. Cada obra convida o espectador a refletir sobre o que significa viver no Rio hoje, num cenário de contrastes entre o glamour turístico e a realidade cotidiana dos moradores.
O mural de abertura, com sua frase direta, funciona como um lembrete de que a arte ali não será uma versão limpa e comercial do Rio que aparece em folhetos de viagem. Ao contrário, o centro propõe provocar, desconstruir estereótipos e estimular a participação ativa da comunidade. Oficinas de grafite, oficinas de música e debates sobre políticas culturais já estão agendados para os próximos meses.
Especialistas em desenvolvimento urbano apontam que projetos como esse têm potencial de gerar efeitos multiplicadores: mais visitantes, novas oportunidades de emprego e fortalecimento da identidade local. Ainda que haja críticas sobre gentrificação, os gestores do centro afirmam que a proposta inclui programas de bolsa para artistas residentes e parcerias com escolas públicas, visando garantir que os benefícios cheguem a quem realmente mora ali.
Com o “Onoff Rio” como peça inaugural, o centro cultural de Santo Cristo sinaliza que o futuro da arte no Rio será, antes de tudo, um reflexo das ruas, das vozes e das tensões que moldam a cidade. A arte urbana que marcou a abertura já se tornou ponto de encontro para debates espontâneos, selfies e cartazes de protesto – um indicador de que o espaço já pulsa com a energia que pretendia trazer.