O Encontro Marcante de Bolsonaro com Mário Fernandes
Em 2019, durante uma visita oficial ao Comando de Operações Especiais (COpEsp) em Goiânia, o então presidente Jair Bolsonaro conheceu um homem que viria a se tornar uma presença constante em seu círculo político estreito: Mário Fernandes, general brigadeiro aposentado. Naquela ocasião, Fernandes já se destacava por sua habilidade em se conectar com líderes e pela confiança que inspirava, pontos fundamentais que o levariam a ascender rapidamente no governo Bolsonaro.
O Comando de Operações Especiais é bem conhecido por abrigar as forças de operações especiais "boinas pretas", a elite do exército, o que por si só já adicionava um prestígio à unidade que Jair Bolsonaro visitava. Fernandes, com sua experiência militar impressionante e habilidade em marketing pessoal, atraiu a atenção de Bolsonaro, que valoriza fortemente figuras militares em seu círculo de conselheiros. Daquele momento em diante, a carreira de Mário Fernandes tomaria um rumo significativo dentro da administração federal.
Ascensão Política e Proximidade com Bolsonaro
Logo após estabelecer uma boa relação com Bolsonaro, Mário Fernandes se destacou como alguém que poderia representar os valores e a visão de governo do presidente. Inicialmente, atuou como ministro interino da Secretaria-Geral da Presidência sob o comando de Luiz Eduardo Ramos. Através dessa posição, Fernandes começou a se envolver cada vez mais com as operações cotidianas do governo.
A habilidade de Fernandes de se mover livremente entre diferentes facções do governo também o manteve em estreito contato com Walter Braga Netto, então chefe da Casa Civil, outro militar de confiança de Bolsonaro. Embora Fernandes não tenha conseguido uma promoção para general de divisão em 2020, ele decidiu aposentar-se e recebeu um convite direto do presidente para integrar formalmente a equipe governamental, provando seu valor e lealdade ao presidente.
Atribuições no Governo e Relações Internas
Em 28 de julho de 2021, a confiança de Bolsonaro em Mário Fernandes foi formalmente reconhecida ao nomeá-lo secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência. Este cargo não apenas solidificou sua posição no governo como também intensificou suas relações com os militares próximos a Bolsonaro.
Os colegas de exército de Fernandes o descrevem como um oficial regular, mas com uma habilidade notável para o marketing pessoal, algo que fez dele um rosto visível e confiável nas esferas próximas ao presidente. Entretanto, essa mesma habilidade que o tornou valioso no governo também gerou rixas e inveja entre alguns de seus competidores e colegas políticos.
A Queda: Prisão e Acusações Graves
Após a saída de Bolsonaro do cargo, Mário Fernandes não desapareceu completamente dos radares políticos. Ele foi designado para o gabinete do deputado federal Eduardo Pazuello (PL-RJ) onde permaneceu ativo até o início deste ano. Contudo, sua carreira viu uma reviravolta drástica em 19 de novembro de 2024, quando foi detido pela Polícia Federal sob suspeitas graves.
As investigações apontam que Fernandes teria fornecido apoio material e financeiro a protestos antidemocráticos em frente ao Quartel-General do Exército em Brasília. Além disso, ele é suspeito de ter contribuído para a tentativa de golpe e planejamentos de assassinatos de autoridades. Essas alegações não só mancharam sua reputação, como também colocaram um ponto de interrogação sobre o envolvimento militar em atividades políticas antiéticas durante e após o governo Bolsonaro.
Reflexões sobre Interações Militares e Políticas
O caso de Mário Fernandes lança luz sobre a delicada relação entre militares e governança no Brasil contemporâneo. A presença significativa de militares no governo de Bolsonaro levantou questões sobre a militarização da política e os limites entre a lealdade ao Estado e ao chefe do governo. A trajetória de Fernandes desde um encontro casual em um comando de elite até seu auge e queda sublinha a complexidade dessas interações.
Enquanto investigações continuam, a imagem dos militares no governo enfrenta novos desafios de credibilidade e confiança. Se as acusações contra Fernandes se confirmarem, isso poderá servir como um estudo de caso sobre os riscos do envolvimento político dos militares e suas consequências para a democracia brasileira.
A cada reviravolta, a narrativa em torno de Mário Fernandes revela lições importantes sobre o papel das Forças Armadas no cenário político do Brasil, lembrando todos os envolvidos da necessidade de manter uma linha clara entre servir ao país e seguir uma agenda política pessoal.