Glória Menezes: 90 anos de talento que moldaram a teledramaturgia
Pouca gente atravessou tantas gerações da televisão brasileira quanto Glória Menezes. Quando ela nasceu, em 1934, em Pelotas (RS), o Brasil nem imaginava o tamanho que a TV teria. Lá se vão nove décadas de vida e mais de 60 anos dedicados às artes – uma trajetória que confunde o próprio crescimento da telenovela por aqui.
Antes de brilhar nas telinhas, Glória já era apaixonada pelo palco. Foi em São Paulo, depois de estudar na Escola de Dramaticidade da USP, que ela arregaçou as mangas e fundou o grupo Jovens Independentes. A dedicação ao teatro ajudou a moldar a atriz que o Brasil aprenderia a admirar, com um estilo natural, voz marcante e presença que conquistava plateias. Não demorou e, em 1959, Glória estreou na TV Tupi com "Um Lugar ao Sol". Na época, as novelas eram ao vivo, em preto e branco, e tudo era feito no improviso e na raça. Ela viu tudo isso de perto e fez parte da transição para o formato gravado que virou sucesso nos lares brasileiros.
O nome Glória Menezes virou sinônimo de novela em 1963, quando estrelou "2-5499 Ocupado" na TV Excelsior. Foi ali que conheceu Tarcísio Meira, seu parceiro de vida e também das tramas na ficção. A química dos dois encantou público e crítica e se traduziu para a vida pessoal – e em diferentes novelas, os dois formavam casais inesquecíveis, deixando a assinatura de amor e cumplicidade no imaginário popular.
Filha, mãe e avó, Glória construiu também uma família ligada às artes, com três filhos – Tarcísio Filho trilhou seus passos e entrou para o mesmo universo. A atriz nunca parou: protagonizou novelas da Globo, Excelsior, Tupi e Record, sempre se reinventando. Versátil, foi da mocinha sofrida à matriarca rigorosa, passando por personagens marcados pelo senso de humor. Quem não se lembra de Dona Lola em “Éramos Seis”, de Meg em "Rainha da Sucata", ou das participações em "Senhora do Destino" e "Páginas da Vida"? Ela transitava entre o drama e a comédia com uma naturalidade rara.

Prêmios, memória da televisão e carinho do público
Glória Menezes não colecionou apenas papéis, mas reconhecimento: quatro Troféus Imprensa, um Prêmio da Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA), o Prêmio Mambembe – voltado ao teatro – e o Troféu Mário Lago. Tudo isso mostra como ela é referência para as gerações seguintes de artistas. E seu nome ainda segue presente nas homenagens feitas pelas emissoras e por colegas, que sempre lembram o quanto trabalhar ao lado da atriz foi inspirador.
O que chama atenção é como Glória manteve a relevância renovando seu trabalho em cada década. Enquanto muitas estrelas se afastaram das novelas, ela seguiu acumulando projetos, indo das tramas contemporâneas às de época, das figuras sofisticadas às populares. Numa época em que os personagens femininos eram muitas vezes limitados a estereótipos, Glória puxava para si papéis complexos, mulheres de fibra capazes de desafiar o mundo ao redor.
Completar 90 anos em atividade é algo raro, mas Glória Menezes faz parecer que o tempo joga a favor dela. Para muitos, ela é parte da memória afetiva: aquela avó querida das novelas das seis, a mulher forte dos dramas noturnos, a atriz incansável das reprises. Mesmo fora das telas, o público sente carinho e respeito, acompanhando suas entrevistas e participações especiais. É a marca de quem fez – e continua fazendo – história na cultura brasileira.